O programa nuclear iraniano e o discurso anti-semita de Ahmadinejad são um dos maiores problemas da política internacional. Por isso, a aproximação do Brasil com o Irã repercute no mundo todo. Mas, afinal, qual é o problema do Irã? Embora se saiba que o país não tem armas nucleares, há indícios de que as está desenvolvendo.
Há incerteza acerca do pacifismo ou do belicismo do Irã. De um lado, o país não inicia guerras há séculos e, ao contrário de alguns países árabes, nunca empreendeu ações militares contra Israel. Autoridades iranianas garantem que seu poder bélico é exclusivamente para a defesa nacional e que sua tecnologia nuclear tem fins pacíficos.
De outro lado, desde a Revolução de 1979, o Irã ameaça “varrer Israel do mapa”. Há indícios de que o Irã apóia a organização palestina Hamas, cujo braço armado promove atentados contra Israel. O Irã é o quarto maior exportador de petróleo, por que pretende produzir energia nuclear com tecnologia própria? Isso é preocupante.
Iranianos argumentam que seu programa nuclear tornou-se fator de coesão e orgulho nacional para um povo que se sente vítima histórica de grandes potências. Eles também estariam reagindo à inclusão de seu país no chamado “Eixo do Mal” pelos Estados Unidos. Entretanto, o poder nuclear seria a melhor maneira de lidar com a situação? Certamente, não.
O problema do Irã tem caráter geopolítico, moral e legal. Há nove potências nucleares no mundo, mas qualquer Estado que queira tornar-se o número dez constitui ameaça global e aumenta o risco de uma terceira grande guerra. O discurso de Ahmadinejad contra Israel é imoral, assim como o de qualquer Estado que pregue a eliminação de outro. Atitudes recentes do Irã ferem o Direito Internacional.
Em 2002, o mundo soube que o Irã desenvolvia atividades nucleares não comunicadas à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Como Estado-parte do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), o Irã pode desenvolver a tecnologia nuclear, mas desde que tenha fins pacíficos. É ilegal impedir que a AIEA verifique instalações nucleares, pois sua função é justamente atestar a finalidade dessas tecnologias.
O Irã tem descumprido o TNP, o que motivou o Conselho de Segurança da ONU a implementar sanções contra pessoas e empresas vinculadas ao programa nuclear do país. Teerã parece acelerar a pesquisa nuclear, enquanto a comunidade internacional não age decisivamente para impedi-lo. Atualmente, o Brasil é um dos únicos no Conselho contra sanções adicionais, mas, como não tem poder de veto, o voto brasileiro não as poderia impedir.
O Brasil e os Estados Unidos percebem a piora da situação nuclear do Irã e não aceitam que este desenvolva armas nucleares. Obama deseja endurecer sanções da ONU, e alguns estadunidenses pensam até em fazer ataques preventivos contra instalações nucleares iranianas. Porém, o Irã não seria invadido, pois isso custaria muito mais que a invasão do Iraque de 2003.
O Brasil insiste em negociações diplomáticas. Argumenta-se que o Irã provavelmente não cederia a sanções impostas por estrangeiros, pois estas ampliariam o apoio dos iranianos ao seu programa nuclear. O Itamaraty não aprovará soluções de força antes de confirmar que o Irã desenvolve armas de destruição em massa, para evitar o erro anglo-saxônico que precedeu a invasão do Iraque.
O que justifica o recente interesse brasileiro pelo Irã? Os fluxos comerciais e de investimentos são ínfimos entre ambos, e essa aproximação gera conflitos entre o Brasil e seus parceiros tradicionais. Uma cooperação nuclear com o Irã dificultaria parcerias do Brasil com países mais avançados no setor. Projetos da Petrobrás no Irã já fizeram Washington pensar em restringir o acesso brasileiro ao financiamento de projetos no setor energético. Iranianos desejam utilizar bancos brasileiros para burlar as restrições bancárias impostas pelos Estados Unidos, algo que o Brasil não quer.
Pouco a ganhar, muito a perder: aproximar-se do Irã não é o melhor a se fazer hoje em dia. É positivo que o Brasil queira evitar que acusações falsas motivem a invasão de um país, como ocorreu no Iraque. Enquanto houver chances de resolver a situação pacificamente, vale a pena insistir na negociação. Contudo, diante da recusa do Irã dar transparência ao seu programa nuclear, seria prudente recrudescer sanções da ONU.
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DIEGO TRINDADE
COMENTÁRIOS
09/04/2010
07/04/2010
China, Rússia e as sanções contra o Irã
A mídia tem divulgado nos últimos dias que a Rússia e a China aceitaram participar de possíveis rodadas, onde sanções contra o Irã poderão ser definidas, para forçá-lo a reduzir o enriquecimento de urânio.
Vale a pena lembrar que, rodadas de negociações ou mesmo discussões desse tipo podem durar semanas, meses e ainda terminar em um impasse.
É importante mencionar também que China e Rússia mantêm relações comerciais com o Irã e nenhum deles tem interesse em quebrar essa relação de confiança.
A China é o maior importador de petróleo da República Islâmica do Irã e, embora possua suas próprias reservas, o custo de exploração seria maior que o benefício e, a produção representaria menos de 7% do total necessário. Esse combustível é de uma importância crítica para a segurança chinesa. Dessa forma, em uma decisão racional, a China prefere ser o maior cliente do Irã, quando a mercadoria é o petróleo.
Não quero parecer pessimista, mas a Rússia e China concordaram apenas em participar da discussão proposta pelo Conselho de Segurança da ONU. Se ratificarão ou não as decisões de sancionar o Irã é uma outra história. Dependerá principalmente dos tipos de sanções.
Mas, penso que vale a pena observarmos de perto o cenário que está proposto e esperarmos os resultados.
escrito por
KÁTIA SOUTO COMENTÁRIOS
Vale a pena lembrar que, rodadas de negociações ou mesmo discussões desse tipo podem durar semanas, meses e ainda terminar em um impasse.
É importante mencionar também que China e Rússia mantêm relações comerciais com o Irã e nenhum deles tem interesse em quebrar essa relação de confiança.
A China é o maior importador de petróleo da República Islâmica do Irã e, embora possua suas próprias reservas, o custo de exploração seria maior que o benefício e, a produção representaria menos de 7% do total necessário. Esse combustível é de uma importância crítica para a segurança chinesa. Dessa forma, em uma decisão racional, a China prefere ser o maior cliente do Irã, quando a mercadoria é o petróleo.
Não quero parecer pessimista, mas a Rússia e China concordaram apenas em participar da discussão proposta pelo Conselho de Segurança da ONU. Se ratificarão ou não as decisões de sancionar o Irã é uma outra história. Dependerá principalmente dos tipos de sanções.
Mas, penso que vale a pena observarmos de perto o cenário que está proposto e esperarmos os resultados.
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KÁTIA SOUTO COMENTÁRIOS
06/04/2010
Fundamentalismo islâmico / A revolução de 1979
A primeira grande manifestação de força do fundamentalismo islâmico nessa nova fase ocorreu em 1979, com a revolução que derrubou o xá Reza Pahlevi, no Irã. Trata-se de uma país muito especial: os iranianos tem origem persa e não árabe, falam seu próprio idioma, o farsi, e 90% da população são xiitas, ala que representa apenas 10% dos quase um milhão de mulçumanos do planeta.
Os xiitas combatiam as duas características centrais do governo de Reza Pahlevi: a modernização econômica através da proximidade com ocidente e a repressão a qualquer sinal oposicionistas, principalmente se viesse da casbah. Ao contrario dos sunitas, os xiitas admitem a mediação de sacerdotes entre Alá-Deus-e os homens. Esses pregadores, imã, mulás e aiatolás operam clandestinamente na área por centenas de anos e constituíam uma oposição duríssima á ocidentalização promovida pelo xá.
A revolução de 1979 unificou os fundamentalistas às correntes que lutavam pela democracia e o fim das torturas promovidas pela policia secreta do xá (a Savak). Mas, assim que tomaram o poder, os integristas-liderados pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, recém chegado do exílio na França iniciaram a aplicação da sharia, a tradicional lei islâmica. O consumo de álcool foi rigorosamente proibido, mas mulheres tiveram que utilizar de novo o chador (véu que cobre o rosto) e muitas vezes se viram obrigada a deixar seus emprego, rumo a vida de “boa esposa mulçumanas", em casa.
O código moral islâmico (que inclui a pena de morte, o açoite para crimes graves e o corte da mão para ladrões) tornou-se a lei do país. Até o controle populacional, visto como “anti-religioso” foi eliminado. A população iraniana quase duplicou, passando de 37 milhões de pessoas em 1979 para 60 milhões, catorze anos depois.
Aplicando o conceito de unidade islâmica sob o comando dos lideres religioso, os governantes iranianos destroçaram violentamente as forças de oposição de esquerda ou direita, mesmo aquelas que haviam participado da revolução contra o xá. Nos meses que se seguiram tomadas do poder, os Guardas da Revolução fuzilaram dezenas de milhares de dissidentes.
Khomeini também retomou o projeto de “expansão da fé”, desenvolvido treze séculos antes de Maomé. O rico Estado petrolífero iraniano iniciou então o financiamento de milícias fundamentalistas nos países vizinhos, como o objetivo de desestabilizar governos pró-ocidentais ou leigos. No Iraque, na Síria, na Turquia, entre os palestinos e no Líbano, surgiram facções leais ao Jihad, a guerra Santa islâmica.
Isso apavorou governos de países onde há importantes minorias xiitas, como o Iraque e a Síria, assustando também Israel e a Casa Branca, devido à perspectiva de um rastilho islâmico que empolgasse o mundo árabe.A solução, para esses países, era frear Khomeini, a qualquer custo.
Carlos Henrique
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Os xiitas combatiam as duas características centrais do governo de Reza Pahlevi: a modernização econômica através da proximidade com ocidente e a repressão a qualquer sinal oposicionistas, principalmente se viesse da casbah. Ao contrario dos sunitas, os xiitas admitem a mediação de sacerdotes entre Alá-Deus-e os homens. Esses pregadores, imã, mulás e aiatolás operam clandestinamente na área por centenas de anos e constituíam uma oposição duríssima á ocidentalização promovida pelo xá.
A revolução de 1979 unificou os fundamentalistas às correntes que lutavam pela democracia e o fim das torturas promovidas pela policia secreta do xá (a Savak). Mas, assim que tomaram o poder, os integristas-liderados pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, recém chegado do exílio na França iniciaram a aplicação da sharia, a tradicional lei islâmica. O consumo de álcool foi rigorosamente proibido, mas mulheres tiveram que utilizar de novo o chador (véu que cobre o rosto) e muitas vezes se viram obrigada a deixar seus emprego, rumo a vida de “boa esposa mulçumanas", em casa.
O código moral islâmico (que inclui a pena de morte, o açoite para crimes graves e o corte da mão para ladrões) tornou-se a lei do país. Até o controle populacional, visto como “anti-religioso” foi eliminado. A população iraniana quase duplicou, passando de 37 milhões de pessoas em 1979 para 60 milhões, catorze anos depois.
Aplicando o conceito de unidade islâmica sob o comando dos lideres religioso, os governantes iranianos destroçaram violentamente as forças de oposição de esquerda ou direita, mesmo aquelas que haviam participado da revolução contra o xá. Nos meses que se seguiram tomadas do poder, os Guardas da Revolução fuzilaram dezenas de milhares de dissidentes.
Khomeini também retomou o projeto de “expansão da fé”, desenvolvido treze séculos antes de Maomé. O rico Estado petrolífero iraniano iniciou então o financiamento de milícias fundamentalistas nos países vizinhos, como o objetivo de desestabilizar governos pró-ocidentais ou leigos. No Iraque, na Síria, na Turquia, entre os palestinos e no Líbano, surgiram facções leais ao Jihad, a guerra Santa islâmica.
Isso apavorou governos de países onde há importantes minorias xiitas, como o Iraque e a Síria, assustando também Israel e a Casa Branca, devido à perspectiva de um rastilho islâmico que empolgasse o mundo árabe.A solução, para esses países, era frear Khomeini, a qualquer custo.
Carlos Henrique
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O fundamentalismo islâmico
Você por certo já esbarrou com o termo fundamentalismo (ou integrismo) islâmico e já viu algum jornal ou emissora de TV rotulá-lo como “radicalismo”. Tentando enxergar as coisas com olhos, digamos menos ocidentais, vamos definir o fundamentalismo como a indentificação entre religião e política. Ou seja, a fusão de fé religiosa e programa político em uma só ação. Muito bem, está correto, você aí que lembrou da expansão árabe com Maomé como um exemplo que cabe nessa definição.No oriente Médio,todas as religiões tem seus movimentos políticos fundamentalistas: os vários partidos ortodoxos judaicos,os cristãos moronitas,etc.
No caso do Islamismo, é importante lembrar que as correntes fundamentalistas serviram como guardiãs da cultura e das tradições, muitas vezes operando na clandestinidade contra regimes modernizantes. E usando métodos típicos da clandestinidade, como o terrorismo.É o que ocorreu com a Fraternidade Muçulmana egípcia, criada nos anos 20, que se opunha à ocidentalização do país e a sua integração à econômica internacional.Violentamente reprimida (Aliás,até hoje), a Fraternidade apelou com freqüência para os assassinato de dirigentes governamentais.
A base social típica do fundamentalismo no Oriente Médio são os pequenos comerciantes das casbahs (os bairros antigos), marginalizados nas sociedades modernas e que por isso mesmo aferram-se mais à tradição.Essa base ampliou-se rumo a outras classes sociais em diversos países, especialmente a partir dos anos 70, quando os planos liberais de ajuste econômicos passaram a atirar milhares de pessoas a desemprego. No Irã, na Argélia ou na Tunísia,o fundamentalismo passou a atrair essas multidões de deserdados da economia (e da cultura) moderna.Como diz a dirigente socialista argelina Chawki Salhi,o fundamentalismo tronou-se a “a ideologia do desespero”.
Carlos Henrique
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No caso do Islamismo, é importante lembrar que as correntes fundamentalistas serviram como guardiãs da cultura e das tradições, muitas vezes operando na clandestinidade contra regimes modernizantes. E usando métodos típicos da clandestinidade, como o terrorismo.É o que ocorreu com a Fraternidade Muçulmana egípcia, criada nos anos 20, que se opunha à ocidentalização do país e a sua integração à econômica internacional.Violentamente reprimida (Aliás,até hoje), a Fraternidade apelou com freqüência para os assassinato de dirigentes governamentais.
A base social típica do fundamentalismo no Oriente Médio são os pequenos comerciantes das casbahs (os bairros antigos), marginalizados nas sociedades modernas e que por isso mesmo aferram-se mais à tradição.Essa base ampliou-se rumo a outras classes sociais em diversos países, especialmente a partir dos anos 70, quando os planos liberais de ajuste econômicos passaram a atirar milhares de pessoas a desemprego. No Irã, na Argélia ou na Tunísia,o fundamentalismo passou a atrair essas multidões de deserdados da economia (e da cultura) moderna.Como diz a dirigente socialista argelina Chawki Salhi,o fundamentalismo tronou-se a “a ideologia do desespero”.
Carlos Henrique
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04/04/2010
Irã, se erguendo como uma potência na região
Ao falarmos do Irã e a questão estratégica (nuclear), duas perguntas devem ser feitas, basicamente: a primeira é: por que tanta preocupação com a possibilidade desse Estado desenvolver armas nucleares, quando outros países como Índia, Rússia, Paquistão, Israel possuem energia nuclear e nem ao menos são signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas como o Irã é? E a segunda pergunta: por que o Irã desenvolveria armas nucleares, mesmo com risco de ser invadido e mesmo sofrendo sanções por parte do Conselho de segurança da ONU?
Para respondermos à primeira pergunta é importante ressaltar algumas características peculiares da República Islâmica do Irã. O Estado tem se erguido como uma potência na região. Sua população é maior que a dos países árabes do Golfo somadas. Com a alta do preço do petróleo na década de 90 seus recursos financeiros são altos. E dada a ideologia extremista do regime de Teerã, a influência crescente do Estado pode causar conseqüências à estabilidade na região. Essa influência pode ser sentida em 2006, nos ataques do Hamas e Hizballah a Israel. Acredita-se que o Irã supra esses grupos com armas, treinamentos e encorajamento a ataques.
Os Shiitas no Iraque apóiam o Irã e alguns são mais fieis ao Irã do que ao seu próprio país, segundo afirmou em 2006 o então presidente egípcio Mubarak.
Então, se o Irã vier a possuir armas nucleares, teme-se que essas armas não venham a ser armas islâmicas, mas armas Shiitas. Por esses e outros motivos teme-se um Irã nuclearizado. Podemos mencionar ainda a política confrontadora do atual presidente Ahmadinejad, embora, para a maioria das teorias de relações internacionais, nenhum líder governa sozinho.
Respondendo a segunda pergunta ... o Irã conta com o apoio de praticamente todas as camadas da sociedade para desenvolver a tecnologia nuclear. Até mesmo a maioria dos intelectuais e forças políticas opositoras, que criticam a política externa da atual administração enfatizam que o Irã tem o direito soberano de desenvolver tal tecnologia. Alguns acadêmicos afirmam que o Irã estaria se armando para manter sua segurança numa estratégia de detenção, ou seja para manter sua segurança numa região já nuclearizada (referindo-se principalmente a Israel). Seja por motivos econômicos alegados, apesar de ser muito mais barato conseguir combustível de fora do que desenvolver energia nuclear, ou pela busca de prestígio nacional por parte da liderança iraniana, ou ainda por políticas domésticas e objetivos militares, o fato é que o Irã, que está se tornando uma potência na região, não concorda em encerrar suas atividades de enriquecimento de urânio, mesmo sob pressão por parte do Ocidente e do Conselho de Segurança da ONU.
E na dúvida sobre a aquisição ou não de armas de destruição em massa por parte do Irã, os Estados opositores preferirão a aplicação de sanções políticas e econômicas à invasão. O motivo é que se um Irã nuclearizado não interessa a ninguém, interessa menos ainda um Irã nuclearizado reagindo a uma invasão. Alguém pode imaginar qual seriam as conseqüências? E ao se defender, a República Islâmica do Irã não estaria fora de seu direito, pois no sistema internacional os Estados sempre protegerão sua soberania, já que dela depende sua sobrevivência.
Kátia Souto
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04/04/2010
Para respondermos à primeira pergunta é importante ressaltar algumas características peculiares da República Islâmica do Irã. O Estado tem se erguido como uma potência na região. Sua população é maior que a dos países árabes do Golfo somadas. Com a alta do preço do petróleo na década de 90 seus recursos financeiros são altos. E dada a ideologia extremista do regime de Teerã, a influência crescente do Estado pode causar conseqüências à estabilidade na região. Essa influência pode ser sentida em 2006, nos ataques do Hamas e Hizballah a Israel. Acredita-se que o Irã supra esses grupos com armas, treinamentos e encorajamento a ataques.
Os Shiitas no Iraque apóiam o Irã e alguns são mais fieis ao Irã do que ao seu próprio país, segundo afirmou em 2006 o então presidente egípcio Mubarak.
Então, se o Irã vier a possuir armas nucleares, teme-se que essas armas não venham a ser armas islâmicas, mas armas Shiitas. Por esses e outros motivos teme-se um Irã nuclearizado. Podemos mencionar ainda a política confrontadora do atual presidente Ahmadinejad, embora, para a maioria das teorias de relações internacionais, nenhum líder governa sozinho.
Respondendo a segunda pergunta ... o Irã conta com o apoio de praticamente todas as camadas da sociedade para desenvolver a tecnologia nuclear. Até mesmo a maioria dos intelectuais e forças políticas opositoras, que criticam a política externa da atual administração enfatizam que o Irã tem o direito soberano de desenvolver tal tecnologia. Alguns acadêmicos afirmam que o Irã estaria se armando para manter sua segurança numa estratégia de detenção, ou seja para manter sua segurança numa região já nuclearizada (referindo-se principalmente a Israel). Seja por motivos econômicos alegados, apesar de ser muito mais barato conseguir combustível de fora do que desenvolver energia nuclear, ou pela busca de prestígio nacional por parte da liderança iraniana, ou ainda por políticas domésticas e objetivos militares, o fato é que o Irã, que está se tornando uma potência na região, não concorda em encerrar suas atividades de enriquecimento de urânio, mesmo sob pressão por parte do Ocidente e do Conselho de Segurança da ONU.
E na dúvida sobre a aquisição ou não de armas de destruição em massa por parte do Irã, os Estados opositores preferirão a aplicação de sanções políticas e econômicas à invasão. O motivo é que se um Irã nuclearizado não interessa a ninguém, interessa menos ainda um Irã nuclearizado reagindo a uma invasão. Alguém pode imaginar qual seriam as conseqüências? E ao se defender, a República Islâmica do Irã não estaria fora de seu direito, pois no sistema internacional os Estados sempre protegerão sua soberania, já que dela depende sua sobrevivência.
Kátia Souto
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04/04/2010
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